terça-feira, 1 de novembro de 2011

A correria de cérebros

Por vezes, gosto do grito matinal da metrópole ao meu ouvido. Não todos os dias, porque as rotinas ceifam o prazer, mas quando o rugido do metro se torna dócil aos sentimentos do nosso pavilhão auditivo, então o fluxo sonoro da cidade pode iniciar a sua dança. O rastejar de belas cobras a transportar a sua carcaça, águias, astutas e repletas de sentido, a disparar o seu grito de paz, a pequena agonia da mesquinhez dos ratos a deslizar pelas entranhas do pavimento, leões carregados de chama para acender os microfones da justiça, doninhas a infectar a atmosfera do cheiro nauseabundo que floresce das suas bocas e com os seus latidos a iluminar os surdos estarão os cães. Apesar de todo o ruído estatístico associado à medição dos decibéis matinais, a sua naturalidade intrinsecamente humana não deixa de me fascinar e embrulhar nas palavras que a descrevem.
Por vezes vejo ao ouvir, por vezes oiço ao ver. Obrigado metrópole pela tua enigmática incerteza.